EMEL anuncia que vai investir na construção de mais estacionamento. A MUBi afirma que a maior parte desse investimento beneficiaria muito mais os lisboetas se fosse aplicado em estacionamento para bicicletas.

A EMEL anunciou que vai gastar 40 milhões de euros a aplicar em oito novos parques de estacionamento com 1.789 lugares e 12.000 novos lugares de estacionamento tarifado na via pública. A MUBi sugere à EMEL que avalie a hipótese de aplicar o montante de investimento destinado aos 1.789 lugares em parques para automóveis em estacionamento para bicicletas.

De acordo com a nossa melhor estimativa, este investimento seria suficiente para dotar a cidade de Lisboa de 60.000 lugares de estacionamento de longo prazo para bicicleta, em condições de plena segurança e abrigo dos elementos, por exemplo em hangares (ver Figura).

O meio milhão de habitantes de Lisboa e os cerca de um milhão de trabalhadores que chegam todos os dias à cidade ficariam certamente melhor servidos com esta nova oferta, do que com mais algumas muito caras centenas de lugares de estacionamento para automóvel. Em média, cada lugar de estacionamento em estrutura custa cerca de 10.000 euros, o suficiente para armazenar 25 bicicletas em local seguro fechado e abrigado!

As novas infra-estruturas para bicicletas permitiriam o estacionamento em bairros residenciais e junto a estações de comboio e metro, cumprindo precisamente os objetivos anunciados pela EMEL para este investimento, de fornecimento de estacionamento para residentes e dissuazão da utilização do automóvel no centro da cidade.

A indisponibilidade de local para estacionamento de bicicletas em zonas residenciais é uma elevada carência em Lisboa, incomparavelmente superior à de espaço para o estacionamento para automóveis. Esta infra-estrutura é totalmente inexistente na cidade de Lisboa, enquanto que a maioria dos cidadãos não dispõe de condições para guardar a bicicleta em garagem ou transportá-la para dentro da habitação. O estacionamento para automóveis, apenas tem excesso de procura porque o respetivo preço não reflete a escassez desse espaço público, tal como aconteceria a qualquer outro bem com o preço abaixo do valor de mercado.

Também é uma carência gritante a inexistência de estacionamento junto às estações de comboio e metro. Nos países em que são dadas essas condições, muitas pessoas optam por recorrer ao transporte público em conjugação com a bicicleta. Quem trabalha em Lisboa não tem simplesmente essa liberdade de escolha, por simples inexistência de lugares para estacionamento de longo prazo junto às estações de transporte público.

A possibilidade de muito mais pessoas utilizarem a bicicleta daria um contributo imediato, e muito mais sustentável, à resolução dos problemas de “carência” de estacionamento que a EMEL pretende resolver. Efetivamente, a utilização da bicicleta permitirá a muitas pessoas e famílias abdicar de um automóvel, reduzindo as necessidades de estacionamento. A redução da posse e utilização do automóvel é uma tendência em países mais desenvolvidos, sobretudo nos centros das cidades e áreas metropolitanas. Investir mais dinheiro público em estacionamento arrisca-se, por isso, à semelhança de erros graves cometidos no passado (veja-se as auto-estradas), a criar elefantes brancos desconexos das necessidades futuras e que irão onerar ainda mais as gerações vindouras. Os benefícios individuais e sociais da bicicleta sobre o automóvel são incontornáveis. Uma simples comparação de custos revela as rotundas vantagens da bicicleta (ver Tabela). A bicicleta é, em média, o modo de transporte mais rápido na cidade em viagens até cinco quilómetros (ver Gráfico 1). Representa ainda benefícios de saúde avaliados em cerca de 1.000 euros por ano, para quem opta pela bicicleta em detrimento do automóvel nas suas deslocações para o trabalho (ver gráfico 2).

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Figura – Hangares para bicicletas em zonas residenciais Tabela – comparativo de custos entre o automóvel e a bicicleta

 

Tabela – comparativo de custos entre o automóvel e a bicicleta

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Fonte: Cycling: the way ahead for towns and cities, Comissão Europeia, 1999.

Gráfico 1 – Tempos médios de deslocação dos modos de transporte em meio urbano

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Fonte: Cycling, Health and Safety, OCDE, 2012

Gráfico 2 – Benefícios de saúde e custos de segurança médios para indivíduos que transitam do automóvel para a bicicleta nas viagens casa-trabalho

 

One Response to MUBi propõe investimento dos milhões de euros da EMEL em estacionamento, mas para bicicletas

  1. Acredito que a sociedade civil é o verdadeiro catalizador para a alteraçao do paradigma.

    Associações e outras entidades como a MUBI, que promovem cada vez mais a bicicleta como um real meio de transporte estão de parabens pelos esforços realizados nos ultimos anos, onde claramente se nota uma mudança.

    Não só estão a atingir os objectivos a que se propoem como paralelamente (e possivelmente sem intenção) fomentam o aparecimento de novas economias relacionadas com as bicicletas.

    Parabens e continuem, assim!

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