A MUBi foi convidada a participar na 4ª Conferência da Mobilidade Urbana, que se realizou no dia 17 de Setembro, no MUDE – Museu do Design e da Moda. O tema foi “Preparar a Cidade para a Mobilidade do Futuro: dos Modos Suaves à Mobilidade Elétrica”, permitindo a intervenção de um leque abrangente de pessoas oriundas do meio empresarial, académico e institucional. 130917-4_conf_mob_urb-3

Após uma breve intervenção pelo Vereador da CML, Fernando Nunes da Silva, que abordou as dificuldades que políticas de mudança enfrentam para poderem ser implementadas, decorreu um painel sobre “Inovação, Energia e Mobilidade”. Com oradores de instituições tão variadas como o Centro de Estudos em Economia da Energia, dos Transportes e do Ambiente (CEETA) ou a Brisa Inovação, o destaque não pode deixar de ir para a apresentação de Filipe Moura, professor de Sistemas de Transportes no Instituto Superior Técnico (IST), que deu enorme ênfase à forma defeituosa e exclusiva como a mobilidade está concebida, e ao desajuste do modo automóvel particular como escolha primordial de transporte urbano face ao padrão de deslocações dos cidadãos. Simbolicamente, Filipe Moura destacou o número 30, como sendo os segundos que uma pessoa de mobilidade reduzida requer para atravessar uma avenida mas, também, os quilómetros por hora de velocidade máxima recomendável para a maioria das artérias de uma zona urbana.

Seguiu-se o painel dedicado à “Afirmação da Mobilidade Eléctrica e da Bicicleta no Espaço Urbano”, em que os intervenientes, da Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico (APVE), da MOBI.Europe, do IMT e da Equipa de Missão Lisboa/Europa 2020, Câmara Municipal de Lisboa versaram sobre a mobilidade eléctrica, tanto na versão de 2 rodas, como de 4 rodas. Se, por um lado, foi reconhecido que num futuro próximo, a penetração do automóvel eléctrico será muito fraca, não deixa de ser preocupante o avultado e desproporcional investimento neste modo, face a outras opções com muito mais potencial de se afirmarem, no curto e médio prazo, como verdadeiras soluções de mobilidade urbana. Constatação evidenciada pela apresentação de Isabel Seabra, em representação do IMT, que abordou a concepção do plano Ciclando, referindo o seu baxíssimo orçamento.

File:Gehzeug.jpg As sessões da tarde começaram com uma palestra de Hermann Knoflacher (wikipedia), responsável pelo Instituto de Tecnologia e Planeamento de Transportes da Universidade Técnica de Viena, que insistiu na doença que representa a mobilidade urbana com recurso ao automóvel. Este austríaco, que vive numa quinta nos arredores de Viena mas desloca-se de transportes públicos, é apologista de cidades para os peões, a uma escala humana em que os bens e serviços essenciais estão a curtas distâncias, estimulando assim as economias locais, em detrimento das grandes multinacionais que deslocalizam trabalho e capital. Desperdício de espaço e energia, por um lado, alienação e segregação dos habitantes, por outro lado.

Seguiram-se 3 painéis paralelos, com os temas “A Indústria Motor da Mobilidade Eléctrica”, “Novos Projectos de Mobilidade em Duas Rodas” e “A Gestão de Frotas e a Logística Urbana”. Foi uma oportunidade para algumas marcas darem a conhecer novas soluções de produtos e serviços, algumas verdadeiramente pioneiras, outras apenas com a mais valia de incrementarem a oferta do mercado.

No entanto, a nota de destaque deverá ir para a apresentação do projecto de bicicletas partilhadas da EMEL. A CML, através da sua empresa de mobilidade, aposta numa pequena rede, limitada a uma zona muito central da cidade, para arranque de um sistema de bicicletas partilhadas dotadas de motor eléctrico. Esta opção tem sido muito controversa, e os mais cépticos receiam que um eventual fracasso de um projecto tão oneroso, eventualmente mal dimensionado, votará este conceito de mobilidade ao abandono em Lisboa, pelo menos durante vários anos.

Finalmente, surgiu a mesa redonda em que a MUBi esteve representada, juntamente com a ACA-M, o Fórum Cidadania Lx, a Associação SOS Bairro Azul e o projecto 0 Emissões. Estas entidades têm em comum o facto de serem iniciativas de cidadãos que, através de diferentes tipos de organização e estrutura, têm vindo a apresentar e implementar soluções para problemas específicos da cidade, complementando ou, mesmo, substituindo os canais e instituições oficiais. É de realçar que as apresentações destes intervenientes tiveram sempre um fio condutor: a predominância do automóvel como opção de mobilidade urbana impede a opção por modos suaves. A MUBi defendeu que a bicicleta é apenas parte de uma solução que deve ser desenvolvida e aplicada com a participação de toda a sociedade: decisores, instituições e cidadãos.

A 4ª Conferência da Mobilidade Urbana não deixou dúvidas quanto à importância da bicicleta como modo fulcral de mobilidade no curto prazo. Esta opção de transporte foi amplamente discutida, a sua elevada competitividade numa boa parte das deslocações e o potencial de ganhos para a saúde e economia das pessoas, das cidades e do país. No entanto, apesar desses argumentos terem sido consensuais, o preconceito permanece onde menos se esperaria: a EMEL / CML justifica a aposta num sistema de bicicletas partilhadas com recurso a bicicletas eléctricas, porque “para popularizar a bicicleta na cidade das colinas é preciso algum tipo de ajuda”. Mais do que infra-estruturas, equipamentos ou legislação, é essencial investir-se na mudança de mentalidades, e o exemplo deveria vir de cima…

Alguns links relacionados com a conferência:

– Entrevista a Herman Knoflacher: http://www.jornalarquitecturas.com/Not%C3%ADcias.aspx?noticia=708

– Notícia sobre a intervençao da MUBi: http://ambienteonline.pt/noticias/detalhes.php?id=13937

– Notícia sobre a conferência e apresentações: http://www.imtt.pt/sites/IMTT/Portugues/Noticias/Paginas/4ConferenciadaMobilidadeUrbanaComunicacoes.aspx

 

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