Muitas cidades portuguesas apresentam muitas elevações e nem sempre é fácil pedalar em todos os trajetos. Há destinos cujo alcance dependem de desvios significativos ou que se tornam difíceis de alcançar de bicicleta.

No entanto, há mecanismos que podem ajudar os utilizadores de bicicletas a transpor cotas. Chegar dos vales aos festos de uma forma mais fácil e com menos esforço. Para além da orografia, todas as cidades têm barreiras como linhas férreas, autoestradas ou pontes, que não são confortáveis de transpor com a bicicleta. Por vezes, são simples escadas em espaço público ou, por exemplo, para acesso a estações subterrâneas de transporte público.

A MUBi é abordada com alguma frequência por sócios, técnicos municipais e autarcas sobre possíveis soluções técnicas para facilitar a transposição de cotas.

A primeira coisa a fazer é desdramatizar.

Geralmente, as cidades são mais planas do que imaginamos e as colinas estão entre as nossas orelhas. Depois, apontar algo que qualquer ciclista sabe: depois do esforço da subida há sempre o prazer do planalto ou o regozijo da descida. E, como qualquer ciclista rapidamente aprende, antes de montarmos na bicicleta revemos o percurso mentalmente e acabamos todos por ter a cidade fresca e tridimensional na nossa cabeça. Dessa forma com pequenos desvios podemos evitar declives mais acentuados. Mas mesmo assim, há sempre aquelas subidas “chatas” ou mesmo falésias ou longas escadas. No limite, os acessos aos transportes públicos para pôr em prática a intermodalidade podem ser um impedimento, pois temos necessariamente de vencer escadas ou de usar elevadores.

A solução mais frequente e económica em escadas são as “calhas” – a proposta da MUBi acabou de vencer o Orçamento Participativo com uma proposta de instalação de “calhas” em dezenas de escadas de Lisboa. Outra solução habitual, em especial no acesso a transportes públicos, são as escadas rolantes ou elevadores. Mas continuamos intrigados porque é que se insiste investir em elevadores em Lisboa sem consultar os futuros utilizadores.

Os modelos de escadas rolantes já existentes são uma tecnologia standard e já muito testada em Portugal e no estrangeiro, inclusivamente no exterior (em espaço público). Não sendo um sistema criado para o uso de bicicletas, existe uma compreensível reticência das instituições em autorizarem o uso da bicicleta em escadas rolantes, da mesma forma que ciclistas iniciados podem ter receio de o fazer. No entanto, da experiência empírica e do dia-a-dia dos nossos associados, é perfeitamente possível de forma confortável, e sem perigo óbvio para outros utilizadores, transportar uma bicicleta convencional em escadas rolantes (basta manter bloqueadas as rodas com os travões). Obviamente que seria um interessante projeto de investigação estudar a possibilidade de adaptação de escadas rolantes standards ao transporte, não só de bicicletas mas também de cadeiras de bebé, cadeiras de rodas, etc. No entanto, haverá que ter em consideração que as escadas rolantes existentes no mercado já estão altamente padronizadas e qualquer adaptação – por exemplo reduzir a altura do degrau ou prolongar o comprimento do degrau – tornaria o sistema a instalar demasiado caro e até eventualmente ergonomicamente desconfortável para peões.

De assinalar que a Metro do Porto proíbe o transporte de bicicletas nas suas escadas rolantes, permitindo-o nos elevadores. O Metro de Lisboa tem tolerado o transporte da bicicleta nas escadas rolantes e elevadores. No entanto, recentemente (Outubro de 2013) foram afixados cartazes com um conjunto de regras que proíbe: “o transporte de bicicletas em escadas mecânicas, tapetes rolantes e elevadores existentes nas estações e acessos”. Esta regra, caso seja fiscalizada, impossibilitará o uso da bicicleta na maior parte das estações de Metro em Lisboa, uma vez que a maior parte delas estão a uma profundidade tal que tornam impossível subir as escadas, carregando a bicicleta na mão. No entanto numa sessão pública (25/10/2013) o Diretor de Operações do Metro de Lisboa José Bagarrão disse que desconhecia a regra e que iria corrigir essa restrição. A MUBi continuará a acompanhar ativamente esta questão.

Escada rolante na Holanda: permissão e aconselhamento: “Com a bicicleta na escada rolante, colocar a roda dianteira em cruz” (Fonte: “La bicicleta en la ciudad”, Ministerio do Fomento, Espanha)

Regras do Metro de Lisboa (Outubro de 2013) Fotografia: Felipe Regues

Recomendações

A MUBi recomenda que:

  • Se realizem estudos nas cidades portuguesas para a criação de percursos, sem barreiras, para os modos ativos e pessoas de mobilidade reduzida.

  • Estes estudos deverão incluir o levantamento de situações geográficas existentes, ou com a necessidade de acessos universais a criar, nomeadamente situações em que é necessário transpor cotas muito diferentes.

  • Se encontrem soluções mecânicas ou outras para ultrapassar esses obstáculos e que sejam o mais inclusivas possíveis.

  • Nem que seja por um período experimental e de observação, se autorize o transporte  de bicicletas em escadas rolantes, em especial no acesso a transportes públicos.

A MUBi fez um levantamento de inúmeras soluções em várias cidades espalhadas pelo planeta, apresentando uma diversidade de soluções para vencer diferenças de cota assinaláveis:

1. Sistemas mecânicos específicos para bicicletas

1.1 Japão (Tokyo e Kyoto)

Países como o Japão e Coreia do Sul têm Sistemas Mecânicos de Elevação (SME) para bicicletas sob a forma de esteiras finas, colocadas ao lado de escadas convencionais, onde os ciclistas podem empurrar para cima de forma assistida as suas bicicletas.

Vídeo 1 | vídeo 2

1.2 Noruega (Trondheim) – Cicloelevador Trampe

O cicloelevador Trampe (do norueguês: Sykkelheisen Trampe) foi o primeiro e é o único elevador de bicicletas do mundo. O primeiro protótipo foi construído em 1993 em Trondheim, na Noruega, e foi depois removido no início de 2012, para ser substituído por um outro com tecnologia bem mais moderna, denominado de CycloCable. O termo Trampe vem da língua norueguesa, e significa literalmente “pisar”.

Fonte

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Vantagens:

  • Menos esforço físico por parte do ciclista encoraja a intermodalidade.

  • Possibilidade de usar em pouco espaço e ao lado de escadas convencionais ou rampas.

Desvantagens:

  • Investimento e manutenção substanciais.

  • Específico para bicicletas (não ajudando peões, cadeiras de rodas, carrinhos de bebé, etc).

  • Sujeito a vandalismo.

2. Tapetes Rolantes em Espaço Público

2.1 Espanha (Vitoria-Gasteiz)

Várias ruas da zona histórica com tapetes rolantes da marca Thyssen desenhadas pelos arquitectos Roberto Ercilla y Miguel Ángel Campo.

Fotografias

Vídeo

2.2 Espanha (Santander)

La plaza de Numancia y General Dávila estarán conectadas por rampas mecánicas

Arrancan las obras de las escaleras y rampas mecánicas de Numancia, que concluirán en la primavera de 2014

9 imagens

2.3 Espanha (Donastia – San Sebastian)

O maior sistema de Espanha com 15 elevadores e 2 tapetes rolantes.

Listagem de projetos em Donastia – San Sebastian

Cinco rampas y una escalera mecánica salvaran los 30 metros de desnivel de la calle Lizardi

Vantagens:

  • Ajuda peões e bicicletas.

Desvantagens:

  • Investimento e manutenção consideráveis.

  • Impacto visual importante.

  • Não consegue vencer o mesmo grau de inclinações que as escadas rolantes.

3. Escadas Rolantes exteriores

3.1 Portugal (Albufeira)

Acesso à Praia dos Pescadores:

Vídeo

3.2 Espanha  (Toledo)

Vídeo | Mais imagens

  

3.3 Espanha (Bilbao)

Escada rolante inaugurada em 2010 custou cerca de 2 milhões de euros.

Vídeo

3.4 Medellin, Colômbia

Imagens Google

Vídeo

Vantagens:

  • Possibilidade de transporte de bicicletas e peões.

  • Solução bem testada tecnologicamente .

Desvantagens:

  • Investimento e manutenção consideráveis.

  • Menos confortável para bicicletas e carrinhos de bebé e impossível para cadeiras de rodas.

——–

Textos diversos:

10 escadas rolantes que se destacam (algumas já referidas)

Sistema de Transportes de São Francisco considera permitir bicicletas nas suas escadas rolantes

Transporte Publico Vertical – Ayuntamiento de Donostia-San Sebastián

4. Funiculares

4.1 Portugal (Covilhã)

Funicular

No caso dos funiculares históricos (como é o caso dos elevadores da Glória, Lavra e Bica em Lisboa) seria fácil a instalação de ferragens discretas no exterior do habitáculo de forma a se poder pendurar bicicletas. A exemplo do que já se faz em autocarros (caso da cidade do Funchal).

Vantagens:

  • Ajuda peões e bicicletas (acautelar as dimensões do habitáculo).

Desvantagens:

  • Investimento e manutenção substanciais.

  • Impacto visual importante.

5. Calhas

 

Vídeo

Vantagens:

  • Rápidas de económicas de instalar.

  • Testadas internacionalmente.

  • Fáceis de perceber e manobrar.

Desvantagens:

  • Maior esforço físico que os sistemas de ajuda mecânica.

  • Desaconselhável para vencer diferenças de cota elevadas.

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One Response to Sistemas de Elevação para Bicicletas

  1. Kleber Alvarenga diz:

    Perfeito, muito boas estas ideias. vejo muita gente até mesmo caindo em escadas por não caber a pessoa e a bicicleta.

    Parabéns.

    Att,

    Kleber Alvarenga
    Consultor Técnico de Sistema ERP.

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