Contributo MUBi para a Reforma da Fiscalidade Verde
A MUBi (Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta) congratula a intenção de levar a cabo uma Reforma da Fiscalidade Verde em Portugal, mas considera que uma reforma da fiscal verdadeiramente eficaz exige medidas mais ambiciosas para reduzir a dependência nacional do automóvel.
A MUBi considera que o vetor principal de implementação de uma política de fiscalidade verde no setor dos transportes terá de ser orientado pela melhoria da qualidade de vida nas cidades, promovendo a acessibilidade inclusiva, o ambiente, e a segurança, reduzindo o congestionamento, o perigo rodoviário, e os impactes ambientais, bem como o excessivo consumo energético do país. Esta perspetiva implica necessariamente reduzir a nossa dependência do automóvel. É de salientar que em Portugal, as contas públicas de uma política focada no transporte individual motorizado e os respetivos custos económicos, sociais e ambientais não têm sido adequadamente abordados pelos sucessivos governos, segundo criticam relatórios internacionais (OCDE, 2012)[1]. Este tipo de política tem tido também como consequência o elevado custo dos investimentos rodoviários que têm sistematicamente agravado o deficit nacional. Finalmente, a hegemonia actual do automóvel sobre o espaço público das cidades portuguesas, em volumes de tráfego e velocidades excessivas, dificulta a convivência com a circulação de pessoas a pé ou de bicicleta em segurança e conforto no meio urbano.
Uma das vítimas deste ciclo de dependência do automóvel foi a bicicleta, como forma de deslocação. A bicicleta tem, comprovadamente, um papel central numa economia sustentável e competitiva: é o modo de deslocação mais rápido em meio urbano até 5km, é extremamente barata, não poluente e ocupa pouco espaço.
Contrariamente à perceção geral, o uso do automóvel em Portugal tem sido protegido em termos fiscais e de investimento público desde o resgate financeiro de 2011. Uma comparação com a tendência global desde 2011 é elucidativa:
- Aumentos nos seguintes impostos: IRS 35%, IMI 90%, IVA – restauração 76%, IVA – luz e gás 280%, taxas liberatórias, imposto selo, cálculo para efeito do imposto de trabalhadores independentes em sede de IRS 5%, taxas moderadoras do SNS 300%, e ainda a contribuição audiovisual 30%.
- Aumentos nos transportes públicos: 24% a 104%, com efeitos dramáticos sobre o orçamento e comportamentos de mobilidade das famílias devido à anulação dos passes 4_18 e 2_23, incentivando a utilização do automóvel nas deslocações para a escola e ATL.
- Aumentos verificados nos impostos relacionados com o automóvel desde 2011: ISP 1%, IUC 1,3%, ISV 0%.
São estes desequilíbrios que a MUBi propõe abordar de modo consequente na Reforma da Fiscalidade Verde, para assegurar melhores opções de mobilidade no sistema de transportes, onde a bicicleta deverá ser integrada como um dos modos centrais.
A MUBi propõe que a utilização da bicicleta seja promovida financeiramente em deslocações para o trabalho, através de incentivos fiscais que correspondam aos benefícios dessa utilização para a economia e sociedade, ou seja, incentivos da ordem dos 0,20€ por quilómetro percorrido. Propõe-se também a introdução de incentivos à criação de estacionamento para bicicletas e a consignação orçamental de fundos para a melhoria das condições de ciclabilidade nas infraestruturas existentes.
A MUBi avança também com diversas outras sugestões na área da mobilidade, nos setores automóvel, transporte público, infraestrutura rodoviária e planeamento e urbanismo:
Bicicleta:
- Incentivos fiscais ou monetários para a utilização da bicicleta para o trabalho
- Incentivar a criação de infraestruturas para bicicletas
- Consignação orçamental à construção de infraestruturas cicláveis
Automóvel:
- Recomendação relativa à proposta do Anteprojeto de introduzir um incentivo fiscal ao abate de veículos em fim de vida
Transporte Público:
- Reposição dos passes 4_18 e 4_23 descontados a 50%
- Equidade fiscal nos transportes públicos para as famílias
- Incentivos fiscais para a motorização elétrica das operadoras de transportes coletivos
Taxação da Infraestrutura Rodoviária:
- Introdução da tributação com base na quilometragem em todo o sistema rodoviário
- Comentários à Recomendação do Anteprojeto 4) “Criação de uma taxa de congestionamento nas grandes cidades”
Planeamento e Urbanismo:
- Incentivos fiscais para municípios que cumprem o Decreto-Lei 163/2006 de 8 de Agosto antes de 2017
- Incentivos fiscais para municípios que desenvolvem e implementam Planos de Mobilidade e Transportes
- Incentivos fiscais para empresas que desenvolvem e implementam Planos de Mobilidade de Empresas e Pólos (Geradores e Atractores de deslocações)
- Medidas Complementares de apoio ao aproveitamento do espaço urbano consolidado existente
- Melhor integração da classificação de solos e zonas urbanas e urbanizáveis no sistema fiscal
- Eliminação dos lugares de estacionamento gratuitos dos serviços do Estado
- Incentivos à eliminação de estacionamento gratuito nos edifícios serviços municipais
Para mais detalhes consulte as propostas da MUBi (pdf) no documento que foi submetido à comissão da Reforma da Fiscalidade Verde.
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Parabens pela pertinencia e relevancia da vossa informação sobre o uso da bicicleta em meio urbano.
Sou professora do ensino secundáriuo e há muito que pretendo desenvolver atividades de sensibilização e promoção do uso da bicicleta nos jovens estudantes, promover a mobilidade responsável e sustentável. Será que estariam interessados em participar num workshop prático com jovens de um agrupamento escolas? Na nossa cidade a bicicleta é um meio de transporte comum entre a população idosa, na comunidade escolar temos jovens e professores praticantes de cicloturismo e ciclismo. A divulgação de informação e formação da nova legislação, do uso responsável da bicicleta e do seu bom impacto no ambiente, na saúde e sobre as condições indispensáveis da via pública para o seu uso, era importante a vossa colaboração. Aguardo resposta. Cumprimentos. Susana Silva