Foto: Joana Freitas, Público

A MUBi congratula a Câmara Municipal de Lisboa (CML) por ter atendido aos alertas da MUBi, corrigindo o perigoso e desconfortável modelo de circulação que desde Setembro era imposto a quem pedalava pela Avenida da Liberdade.
Segundo a proposta aprovada esta semana, os ciclistas poderão de novo voltar a circular de forma contínua pelas laterais e poderão voltar a usar a faixa de rodagem central como faziam antes desta experiência. Corrigem-se assim os erros grosseiros que a solução temporária no corredor central lamentavelmente introduzia para os ciclistas que o usavam para percorrer a Avenida, o que são boas notícias para os ciclistas.

Em relação ao desenho pré-período experimental, o desenho definitivo do eixo Marquês/Avenida introduz algumas melhorias para quem lá pedala. Em particular, o novo desenho da rotunda tornou-a mais segura para ciclistas que a partilham com o restante tráfego e o trânsito nas laterais tornou-se menos intenso e mais calmo. Infelizmente, a inversão de sentidos nas laterais introduziu novas complicações à navegação em bicicleta deste eixo.

No entanto, a solução final para os ciclistas está ainda longe de lhes oferecer a segurança, conforto e competitivade que este meio de transporte requer. Tal como proposto pela MUBi na consulta pública que antecedeu as alterações [1] e que foi repetidamente apresentado à CML em reuniões de acompanhamento da experiência ao longo dos últimos meses, a solução apropriada passa por permitir aos ciclistas circular de forma bidireccional e contínua em ambas as laterais, com piso adequado e medidas de acalmia de trânsito eficazes. Refira-se que, entre quem pugna por melhores condições para os ciclistas, não há actualmente discordâncias em relação a esta solução: tanto o relatório da workshop ThinkBike, emitido pela Dutch Cycling Embassy [2], e o mais recente parecer da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) [3] apontam para a mesma solução.

Infelizmente, a CML acabou por implementar apenas uma variante muito incompleta desta solução, que sofre de importantes defeitos:

  • A importância da bidireccionalidade nas laterais para os ciclistas foi negligenciada, acabando por não ser implementada;
  • O piso mantém-se inadequado em parte das laterais;
  • O atravessamento contínuo de trânsito motorizado voltou a ser permitido nas laterais, o que induzirá trânsito motorizado mais intenso e rápido nas mesmas;
  • As laterais mantêm uma largura estreita que não permite a um ciclista ultrapassar de forma segura os automóveis parados em congestionamentos.

 A MUBi continua, pois, a apelar à CML que reveja o desenho actual e que implemente a solução completa por nós proposta. Esta proposta razoável, fácil de implementar e testada em muitos países europeus, implicará a eliminação de uma das filas de estacionamento em ambas as laterais, tal como aliás tinha sido prometido aos Lisboetas no inicio deste processo (no croquis da proposta inicial – [4]).

A proposta inicial da CML para “devolver a avenida às pessoas” passava por eliminar uma fila de estacionamento e alargar os passeios, o que permitiria largura suficiente para tornar as laterais bidireccionais para bicicletas. Fonte: panfleto “Mais vida na Avenida”, da CML.

 No cômputo geral, a MUBi lamenta que o novo eixo Marquês/Avenida continue dominado pela circulação e estacionamento automóvel, bem patente na área de espaço público que as vias de circulação e estacionamento automóvel continuam a consumir naquele eixo, no ruído e poluição que persistem inaceitáveis e nas velocidades inadequadas que se continuam a observar no corredor central. Comparando o desenho final com as medidas humanizadoras que a CML originalmente prometeu, muitas dessas medidas foram descartadas, numa clara cedência às pressões dos utilizadores de veículos motorizados – que hoje continuam a ser os cidadãos de primeira classe do eixo Marquês/Avenida.

Não deveria ser preciso a União Europeia ameaçar-nos com uma multa de milhões de Euros para a nossa autarquia decidir tomar medidas que protejam a saúde de quem habita, trabalha ou visita Lisboa, e tornem a cidade mais humana, mais sustentável, e mais apelativa.

A direcção da MUBi


[1] https://mubi.pt/?attachment_id=1205
[2] http://dutchcycling.nl/library/file/Report%20ThinkBike%20Workshop%20Lisboa.pdf
[3] http://www.fpcub.pt/pt/anexos/755_Bicicletas%20na%20Av.%20da%20Liberdade.pdf
[4]http://lisboaparticipa.cm-lisboa.pt/mediaRep/lisboaparticipa/files/lisboadebate/Mais_informacao_Alteracao_a_circulacao_na_avenida_da_liberdade.pdf
[5]http://www.publico.pt/local/noticia/poluicao-na-avenida-da-liberdade-pode-custar-19-milhoes-de-euros-ao-estado-1563589

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