Através dos seus sócios, a MUBi, Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, teve conhecimento, recentemente, da instalação de vários estacionamentos para bicicletas localizados na Maia, no âmbito do Plano de Mobilidade Sustentável do Concelho da Maia (http://www.cm-maia.pt/index.php/plano-mobilidade-sustentavel/147-plano-de-mobilidade-sustentavel-do-concelho-da-maia).

Acontece que estes equipamentos não apresentam o design adequado para a sua utilização.

Com efeito, os estacionamentos de bicicletas são na maioria das vezes mal desenhados e desadequados à utilização das bicicletas. Opta-se na maioria das vezes pelos chamados Empena-Rodas, em que a roda dianteira encaixa numa estrutura, suportando uma boa parte do peso da bicicleta.

Os principais problemas que estes estacionamentos de enfiar a roda têm são um reflexo do nome pelo qual é conhecido:

  • Para bicicletas de pneu fino (estrada ou clássicas), o peso da bicicleta fica apoiado nos raios, podendo quebrá-los, o mesmo acontecendo no caso de pneus mais largos.

  • Para bicicletas de BTT com pneus tubeless é frequente esvaziarem o pneu, quando se quer retirar a bicicleta.

  • Outras bicicletas de BTT podem partir raios, dada a pressão no encaixe.

  • As bicicletas de criança ou de roda pequena como dobráveis batem com os dropouts ou com a forqueta no encaixe do estacionamento.

  • No caso de estacionamentos em espiral, como vemos em muitas cidades, o problema agrava-se, porque o encaixe da roda nem sequer se faz na vertical.

  • O roubo de uma bicicleta nestes estacionamentos é extremamente fácil. Basta desapertar a roda pois está fora de questão colocar um cadeado seguro que prenda o quadro como os cadeados em U-Lock.

  • O sitema não permite prender o quadro da bicicleta a não ser com cadeado de cabo de aço, que se consegue vandalizar facilmente.

  • Por estarem apenas apoiadas na roda da frente, as bicicletas ficam pouco estáveis, e facilmente sujeitas a serem derrubadas, podendo isto acontecer em efeito dominó, com as óbvias possíveis consequências.

Estacionamento junto à Biblioteca Municipal Doutor Vieira de Carvalho, Maia

Esta bicicleta citadina, ideal para deslocações em cidade, dada a posição vertical do condutor, fica totalmente apoiada do eixo da frente, numa posição de equilíbrio muito precário:

Travessa Doutor Carlos Pires Felgueiras, Maia

Este tipo de estacionamento leva a que os utilizadores coloquem a bicicleta numa posição que não lhe danifique os raios, o aro ou de modo a que o roubo se torne menos facilitado:

Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (foto de Diogo Rocha)

Relativamente à localização do estacionamento, a tentação de o colocar “fora da vista” é muitas vezes a mais imediata. De modo a incentivar o uso da bicicleta de forma efetiva, a localização do estacionamento deve ser no local mais conveniente para os ciclistas, surgindo como a opção mais natural para estes, no final do seu percurso. O estacionamento nunca deve ser em cima do passeio, pelas dificuldades que vai acrescentar aos peões com mobilidade reduzida como invisuais ou peões que se desloquem em cadeira de rodas. Junto às paredes dos edifícios, a bicicleta estacionada constituirá um obstáculo desnecessário e perigoso.

O suporte escolhido deve transmitir segurança e facilidade de utilização ao utilizador. Assim, o design do elemento de suporte deve cumprir os seguintes requerimentos:

  • Suportar as bicicletas recorrendo a pelo menos dois pontos de apoio.

  • Evitar que a roda dianteira rode sobre si.

  • Permitir que tanto o quadro como as rodas da bicicleta sejam fixos ao suporte.

  • Suportar bicicletas que não tenham tubo horizontal superior (quadros com entrada baixa ou “de senhora”).

  • Permitir que a fixação de ambas as rodas e do quadro, possa ser efectuada com recurso a cadeados do tipo “U” ou “D”.

  • No seu design deve ser tido em conta que os mesmos constituem uma barreira para pessoas invisuais, e por isso devem ter elementos que identifiquem a sua presença.

  • Suportes que apenas oferecem apoio na roda frontal ou apenas num ponto de apoio do quadro devem ser evitados a todo o custo:

Deste modo, o modelo mais simples e fiável (e consequentemente mais difundido) é do tipo “Sheffield” ou “U” invertido. Este não só cumpre todos os requisitos atrás mencionados, como é de fácil fabrico e instalação. O seu desenho deve ser complementado com uma barra inferior, para permitir a sua identificação por parte de invisuais, oferecendo, ao mesmo tempo, mais um ponto de fixação para bicicletas de criança ou com designs não standard.

A escolha do local indicado para o estacionamento de bicicletas é crítico para o seu sucesso. Em geral, deve ser instalado junto da entrada do edifício/serviço que serve, ou a sua utilização poderá ficar comprometida. Tem de se mostrar como uma vantagem real face ao estacionamento automóvel. Assim, não deve estar situado a mais de 30 metros do destino que pretendem servir.

Quando possível, a zona de estacionamento deverá ser delimitada com uma alteração da textura e cor do pavimento. Isto enfatiza a área não só para os potenciais utilizadores, mas também confere uma segurança adicional para pessoas com deficiêncial visual.

Recomenda-se que o estacionamento para bicicletas seja coberto, quer localizando-o dentro de um edifício, ou sendo dotado de um abrigo adequado (e localizado perto da entrada do ediíficio/serviço que serve).

 Finalmente, os estacionamentos devem também estar bem sinalizados. Se os utilizadores de bicicletas não souberem da sua existência, dificilmente estacionarão lá os seus veículos. Assim, ao contrário do que é usual, recomenda-se o recurso a estratégias comunicacionais bem visíveis e convidativas. Se o estacionamento apresentar vantagens acrescidas como a vigilância, tal facto deve ser devidamente anunciado para que seja mais convidativo lá deixar a bicicleta.

Estacionamento na Praça do Bom Sucesso, no Porto. Equipamento com design específico que cumpre as indicações sugeridas. Chumbado no solo, para evitar que seja roubado. Substitui dois lugares de estacionamento automóvel.

Estacionamento na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto. Junto ao acesso ao edifício, no pavimento do jardim.

Estacionamento junto ao Mercado Municipal de Matosinhos. U invertido chumbado no pavimento, para evitar o seu roubo. Substitui um lugar de estacionamento automóvel e permite o estacionamento de oito bicicletas.

Estacionamento no parque municipal da Trindade, Porto. Chumbado no solo. Pavimento pintado para fácil identificação. Permite o estacionamento de vinte bicicletas.

Estacionamento na Universitat Pompeu Fabra em Barcelona. Praça para estacionamento de várias dezenas de bicicletas. U invertido chumbado no pavimento.

A MUBi manifesta a sua total disponibilidade para colaborar junto da câmara municipal da Maia no sentido de se encontrarem soluções eficazes e seguras.

Fontes:

http://www.biclanoporto.org/?p=2993#more-2993 http://www.velocultureporto.com/2012/03/21/coisas-bem-feitas/ http://www.designforsecurity.org/uploads/files/DFS_Cycles.pdf http://www.fpcub.pt/files/anexos/763_Manual_estacionamento_fpcub.pdf

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Este documento foi enviado à câmara municipal da Maia no dia 29 de março de 2014.

2 Responses to Plano de Mobilidade Sustentável do Concelho da Maia – estacionamento para bicicletas

  1. António, se puderes tira fotografia da situação atual e vai dando novidades. Se se conseguir uma alteração positiva, seria interessante divulgá-la!

  2. António Menino diz:

    Mandei este link para os responsáveis do Continente, porque geralmente tenho que prender a minha bicicleta ao gradeamento das caixas onde guardam as bilhas de gaz.
    Pelas respostas, parece que está a ter uma boa aceitação.
    Vamos ver no que dá.

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