A revista online “O Corvo” interrogou a MUBi sobre a perigosidade dos carris do elétrico na cidade de Lisboa para os ciclistas. O resultado acabou de ser publicado neste artigo: Carris de eléctrico desativados são armadilha para ciclistas. Como nos parece um assunto importante e polémico decidimos publicar aqui o nosso depoimento completo (alterando ligeiramente para que seja generalizável para outras cidades Portuguesas para além de Lisboa):

A MUBi tem esperança que os carris desativados nas cidades voltem a ter elétricos frequentes e confortáveis, ajudando assim a resolver os verdadeiros problemas de mobilidade e perigosidade das cidades Portuguesas: o excesso de automóveis e o excesso de velocidade dos veículos motorizados.

A MUBi considera essencial que os percursos de elétricos, erradamente desativados no final do século XX, deveriam ser restabelecidos, sinal que as cidades Portuguesas estariam a inverter uma política de décadas de privilégio ao automóvel particular. Cidades com mais carris ativos seriam cidades melhores para todos os que nelas se deslocam, qualquer que seja o seu modo de transporte.

A reativação de linhas que já existiram e a instalação de novas linhas, devia ser acompanhada de profundas reformulações do espaço público com a instalação de acalmias de tráfego, redução do estacionamento, alargamento de passeios etc. Os elétricos deveriam ter a possibilidade de transportar facilmente bicicletas (penduradas no seu exterior).

Dito isto, os carris (ativos e desativados) podem ser um perigo para os ciclistas na cidade. Os carris são claramente uma das causas de queda mais frequentes de ciclistas. Os percursos onde há carris exigem mais atenção do ciclista, principalmente em dias de chuva. As quedas de ciclistas provocadas pelos carris podem ser de vários tipos: 1) a roda da bicicleta enfiar-se no carril 2) escorregamento da roda sobre o carril (principalmente em dias de chuva) 3) irregularidades do pavimento fazendo com que haja ressaltos indesejáveis.

A forma mais simples de evitar os três tipos de acidentes está na forma como o ciclista os consegue evitar: cruzando os carris só quando absolutamente necessário e com um “ângulo de ataque” entre o carril e a roda da bicicleta o mais perpendicular possível. No entanto, as ruas estreitas de Lisboa por vezes tornam mais difícil  conseguir um “ângulo de ataque” mais seguro, mas é um problema que poderá ser mitigado com melhor desenho urbano (como por exemplo o nivelamento de todo o piso, resolvendo assim questões da acessibilidade pedonal, cumprimento do DL163/2006, oportunidades para a criação de zonas de coexistência, etc.).

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Algumas cidades “mais amigas das bicicletas” instalaram soluções para evitar o acidente tipo 1): um enchimento de borracha no carril que rebaixa com o peso de um elétrico, mas que evita que os pneus mais leves da bicicleta fiquem presos no carril. Sendo uma solução interessante (teríamos toda a disponibilidade para conversar com as câmaras e operadores sobre o assunto), temos consciência que só ajuda a resolver um dos tipos de acidentes. Isto é, sem a devida manutenção dos pavimentos por parte das câmaras e o cuidado dos ciclistas, as quedas continuariam a existir. Por isso mesmo preferíamos que as câmaras não se distraíssem com um problema secundário e se concentrassem no verdadeiro problema da cidades, repetimos: excesso de automóveis em excesso de velocidade.

4 Responses to Os carris do elétrico e bicicleta

  1. Sérgio diz:

    “A MUBi tem esperança que os carris desativados nas cidades voltem a ter elétricos frequentes e confortáveis, ajudando assim a resolver os verdadeiros problemas de mobilidade e perigosidade das cidades Portuguesas: o excesso de automóveis e o excesso de velocidade dos veículos motorizados.”

    Sendo que a Mubi generaliza que todos os cidadãos que conduzem nas cidades são “excessivos e que n cumprem as regras”, reservo-me o direito a pensar que dado que vejo muitos ciclistas e e citando a própria Mubi:

    “O perigo mais subtil, mas mais frequente e grave, é nos cruzamentos. Quando interagem com o restante tráfego (geralmente, e também ilegalmente, usando as passadeiras de peões) os ciclistas fazem-no em contra-mão e com velocidades até três vezes superiores à de um peão”

    que são todos pessoas que vivem na ilegalidade e que n respeitam ninguém e que como tal n merecem respeito.

    — É o mal de generalizar.
    Mais do que invocar qualquer direito que seja para quem ande de bicicleta(e que já têm) como previsto, talvez n fosse má ideia começar por educar que nelas andas e quem com elas tem de conviver.

    • Mário diz:

      Caro Sérgio,

      Muito obrigado pelo comentário mas não leu com a devida atenção os dois artigos da MUBi. Senão vejamos:

      A MUBi diz que devemos resolver os “…verdadeiros problemas de mobilidade e perigosidade das cidades Portuguesas: o excesso de automóveis e o excesso de velocidade dos veículos motorizados.” De forma alguma generaliza ou afirma que todos os condutores (nem sequer a maior parte) andam em excesso de velocidade. A interpretação é sua e é abusiva.

      Da mesma forma no parágrafo seguinte estávamos a referir os ciclistas que circulam por vezes em cima dos passeios. De forma alguma generaliza ou afirma que todos os ciclistas (nem sequer a maior parte) andam em cima do passeio. A interpretação é sua e é abusiva.

      Muito sócios da MUBi são automobilistas e ciclistas e tem toda a razão na sua conclusão: um dos problemas das conversas sobre segurança rodoviária é o uso de generalizações contraproducentes.

      Quanto ao final do seu email estamos totalmente de acordo.

  2. João Barreto diz:

    Excelente artigo da mubi.
    A questão dos carris é um forte exemplo do porquê da necessidade de se deixar uma distância lateral de pelo menos 1,5m quando se ultrapassa um velocípede: perante a necessidade de cruzar um carril, o velocípede tem normalmente de se desviar um pouco para o lado antes de atacar o carril num ângulo seguro, manobra que, vista de trás por quem seguir o velocípede, parece um ziguezague súbito em que o velocípede tem de oscilar substancialmente na largura da via que ocupa. Uma distância de pelo menos 1,5m dá margem para que, caso o condutor decida ultrapassar quando o ciclista está prestes a cruzar o carril, tudo decorra em segurança.

  3. Mais um excelente artigo da MUBi
    Eu por exemplo já caí com a tola no chão na Rua da Prata por causa de um carril. Este é usado, mas o pavimento lateral abateu devido ao peso dos carros e ficou uma altura muito grande, tendo-se tornado perigosa.
    Viva a BICICLETA 🙂

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