Desde há muito que a MUBi tem vindo a alertar a Câmara Municipal de Lisboa para o facto de que  os seus projetos evidenciam lacunas no processo de conceção, que merecem uma reflexão mais atenta, quer ao nível das prioridades bem como ao nível da valorização das competências, tanto internas como externas, existentes na cidade. Na nossa revisão critica da ciclovia Santa Apolónia – Parque das Nações, a 28 de Abril de 2014, a MUBi alertou:

  • A mobilidade em bicicleta ainda não é suficientemente prioritária para a CML, nomeadamente face à utilização do automóvel. O percurso para bicicletas não foi dotado de melhor qualidade e não teve continuidade em troços de ligação essenciais, revelando uma ausência de coragem política para retirar espaço ao automóvel, com a exceção do troço em que esse espaço se encontrava obsoleto.

  • A CML continua a investir em soluções de mobilidade para bicicleta com deficiências técnicas e que não seguem as boas práticas amplamente divulgadas e publicadas. A MUBi apela a que a CML encontre formas de promover as competências adequadas no domínio da conceção de vias seguras para bicicletas.

  • A CML não levou a sério o envolvimento dos utilizadores finais no desenvolvimento de soluções, não tendo promovido o diálogo efetivo com as organizações representativas dos interesses dos utilizadores de bicicletas, facto que em muito teria beneficiado o desenho final da obra.

Infelizmente a Câmara Municipal de Lisboa continua na mesma. Sobre a recente obra na Rua Marquês da Fronteira, a MUBi enviou agora ao Presidente da Câmara de Lisboa a seguinte comunicação:

Exmo Sr. Presidente Fernando Medina,

Assistimos com apreensão às obras da ciclovia na Rua Marques de Fronteira, apesar dos vossos serviços terem sido alertados várias vezes para o perigo e incómodo de fazer ciclovias à cota do passeio, verificamos que, mais uma vez, é exatamente isso que está a acontecer.

Existem inúmeras más experiências no passado em que se usou a mesma solução, com consequências desastrosas para ciclistas e peões. Por diversas razões conhecidas, mas que não importa aqui esclarecer, os peões preferem usar a ciclovia para caminhar, criando assim conflitos perfeitamente evitáveis – independente de outros erros que este projeto possa ter, as ciclovias deverão estar à altura do asfalto ou pelo menos a meia altura do lancil (6 cm).

Aproveitamos também para lembrar que, em reunião em janeiro de 2013 das várias associações com vereadores da CML, esse assunto já foi levantado e é de todo incompreensível porque se insiste num erro, que já todos sabemos que acabará por não servir ninguém.

Nessa reunião foi também prometido que, no sentido de manter um diálogo saudável, construtivo e permanente, seria constituído um grupo de acompanhamento formado por representantes da CML e de ONGs promotoras da mobilidade sustentável na cidade e da defesa dos direitos dos peões e utilizadores de bicicleta. Foi-nos inclusivamente prometido que uma proposta de protocolo seria redigida nas semanas seguintes! Até agora nenhuma das associações presentes recebeu qualquer proposta de protocolo com vista à criação de tal grupo de acompanhamento. Ora, perante os erros que assistimos constantemente no que diz respeito à construção de infraestruturas para bicicletas (a Rua Marquês de Fronteira é um mero exemplo que estamos a tentar evitar com esta carta), a existência deste grupo revela-se essencial, para que a CML não continue a desperdiçar dinheiros públicos.

ciclovia marques fronteira 1

8 Responses to Rua Marquês da Fronteira: assim não, Câmara Municipal de Lisboa!

  1. Miguel diz:

    Passo aqui todos os dias de bicicleta para o trabalho e concordo que neste troço particular, a ciclovia poderia/deveria estar ao nível da estrada, possivelmente com pinos para impedir a invasão pelos carros.

    Uma outra coisa que não compreendo são os desníveis das ciclovias (berma do passeio) quando atravessam uma estrada Deveriam ter uma rampa suave.

  2. J.C.Lima diz:

    Eu ia comentar, dar algumas sugestões sobre este assunto, mas depois de ler no Público de hoje os comentários (que no mínimo revelam falta de educação) de um sr João P. Ferreira que dispara sobre tudo e todos e chama idiota ou ignorante a quem não tenha exactamente uma perspectiva como a sua, não corro riscos.
    O sr João P. Ferreira prestou um péssimo serviço à causa que (talvez) pretenda defender e fez mal ao evocar a MUBi, que, embora sem culpa, corre o risco de ficar associada ao mesmo estilo do ‘comentador, o que é de enorme injustiça.

    • LUIS B. diz:

      Li esse artigo sobre vendas de bicicletas em Portugal. Por aí parece que estamos no bom caminho. Quanto aos comentários que refere, de facto notei nalguns deles uma agressividade não só desnecessária, como negativa para a imagem de civismo que pretendemos transmitir.

  3. Filipa Roncon diz:

    Acho mesmo importante o trabalho que vocês – MUBI – fazem de alertar a CML e outros agentes locais para a importância de se fazerem ciclovias seguras para todos! Mas se a CML ainda não nos escuta, porque não tentar por outras vias? Porque não fazer uma iniciativa legislativa de cidadãos e recolher 35.000 assinaturas de cidadãos e levar essa tema à AR? Enfim, não estou por dentro da legislação existente sobre cidades cicláveis, mas fica a sugestão. Talvez haja 35000 ciclistas/apoiantes da causa em Portugal. Da minha experiência de todos os dias tentar ciclar a ciclovia da Av. Duque de Loulé posso dizer que é mesmo perigoso a ciclovia não ser feita pela altura da estrada ou não ter um lancil próprio que a separe do resto do passeio. Já ia atropelando peões e tenho imensa atenção. As ciclovias não serem bidireccionais também é fundamental. Enfim… Adoro andar de bicicleta, mas as condições da cidade de Lisboa ainda deixam muito a desejar.FilipaR

  4. Jorge diz:

    Luis, essas paragens de autocarro que refere não estorvam a ciclovia nem foram mal construídas, é melhor que estejam junto à estrada do que ter o autocarro a estacionar em cima da ciclovia para apanhar os passageiros, ou pior ainda, ter aqueles que esperam na paragem em cima da ciclovia para conseguirem ver quando é que lá vem o autocarro (com aquelas árvores não dá para ver).

    Não, a única solução ali era a ciclovia contornar as paragens pela traseira e adicionar uma passadeira para os peões atravessarem a ciclovia para poderem chegar às paragens em segurança. O espaço é de todos e quem usa o BUS também tem o direito a sentir-se em segurança. No estado em que está actualmente, com as ciclovias a serem interrompidas pelo passeio é inseguro para todos, ciclistas e peões.

    Na rua mencionada pelo artigo parece que vai acontecer exactamente o mesmo e espanta-me a solução proposta pela MUBI pois caso se concretize, irá meter em risco os ciclistas pelas razões que disse acima: os autocarros irão encostar à berma para recolher passageiros e/ou os peões irão para a ciclovia esperar o autocarro. A solução deveria passar pelo estreitamento da faixa de rodagem, de forma a alargar o passeio e permitir assim a passagem da ciclovia pela traseira da paragem de autocarro (e sim, esta tem que estar obrigatoriamente ao nível do asfalto e nunca do passeio). E mais, a ciclovia devia ser UNIDRECCIONAL (uma faixa de ambos os lados da rua) e não BIdireccional (apenas de um lado da rua), como pelas fotos aparenta ser. Se um ciclista quiser mudar de direcção ele que se dane. A ciclovia de Stª Apolónia é um excelente exemplo disso onde muitos ciclistas preferem ir pela estrada pelo simples facto do seu destino não ser ou Stª Apolónia ou o Parque das Nações (quem vive ou trabalha ali pelo meio do troço que se dane).

    Raios parta a CMLX.

    • Caro Jorge,

      Se ler com atenção a carta que enviamos à CML, não encontrará nela nenhuma “solução proposta pela MUBi”. É um comentário genérico que é uma péssima ideia construir ciclovias à altura do passeio. Se ler com atenção o acordo que houve na citada reunião, perceberá que ciclovias bidireccionais em zonas urbanas são regra geral uma péssima ideia.

      Não quisemos, para já, fazer muitos comentários a esta obra, precisamente por ainda ser uma obra e porque infelizmente não tivemos qualquer acesso ao projecto. A carta é essencialmente, e também, um protesto sobre esta falta inadmissível de participação.

      A segurança de utilizadores de bicicleta, principalmente junto a paragens de autocarro, é um assunto complexo que não deve ser comentado de forma simples e sem cabal conhecimento do contexto. É também por isso que a MUBi não propõem nada, nem sequer comenta outras opções deste projeto, para além do conflito com os peões, por se ter decidido que a ciclovia ficará à altura do passeio.

  5. Luis diz:

    As ciclovias construídas pela CML, têm quase todas apenas a finalidade de legitimar legalmente o uso da bicicleta por cima dos passeios, já que uma ciclovia que esteja ao mesmo nível deste, não passa de um passeio pintado de vermelho o que aliás os peões que por cima dela circulam confirmam.

    Quanto à insistência em colocar paragens de autocarro a interromper o trajecto das ciclovias, à semelhança do que acontece por Lisboa fora, penso que seja o subproduto de algum contrato oculto entre a CML e a J.C. Decaux, empresa de publicidade que segundo li algures, financia as paragens de autocarro. Calculo que exista algum acordo oculto escrito que obrigue as paragens a estarem à beira do passeio, para que a publicidade seja melhor vista pelos condutores de veículos. Penso que só isso justifica que por exemplo, se tenha gasto dinheiros públicos para trazer as paragens para a frente da estrada, na ciclovia Parque das Nações – Santa Apolónia. Essas paragens, no tempo em que aquilo era uma faixa de Bus, estavam recuadas para trás. Foram trazidas para a frente, de forma a estorvar a ciclovia, quando ela foi construída.

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