Em Lisboa e no Porto, a MUBi participou em actividades que levaram a uma reflexão sobre a mudança. Desde a ocupação do espaço público e pensar as cidades que temos e queremos ter, à segurança rodoviária e condução de bicicleta em meio urbano, até ao crescimento do cicloturismo enquanto gerador de valor económico e empregos.

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LISBOA

Urban Talks – Uma conversa sobre Cicloturismo

No dia 21 de Setembro, participámos numa “Urban Talk” sobre cicloturismo, um encontro promovido pela Cooperativa Bicicultura e pelo Upon Lisbon.

O cicloturismo é um dos setores de maior crescimento no turismo. Já em 2012 um estudo dizia que há um número estimado de 2,3 mil milhões de viagens de cicloturismo por ano na UE, o que representava um valor económico total de 44 mil milhões de euros. Já então o cicloturismo gerava directamente e indirectamente mais de meio milhão de empregos na UE. Em França, os cicloturistas gastam quase 20% mais do que a média de todos os turistas. Em comparação, a indústria do turismo de cruzeiros representou um valor económico de 38 mil milhões de euros e 326 mil empregos.

Fonte: ECF, 2018

Apesar de a MUBi ter uma vocação claramente urbana, como está bem patente no seu nome, sempre tomou atenção à componente de lazer fora das cidades. Mas como também ficou bastante claro durante a mesa redonda, nos últimos anos o turismo urbano em bicicleta também é um elemento importante nas maiores cidades portuguesas.

Como bem notou o Ricardo Ferreira, guia de turismo em bicicleta (e membro dos órgãos sociais da MUBi) o turismo em bicicleta em Lisboa explodiu, mas também contribuiu para que alguns turistas façam agora alguns percursos fora de Lisboa. Todos os participantes concluíram que é muito difícil generalizar características dos cicloturistas, mas há necessidades que são comuns.

A primeira é obviamente a segurança. A MUBi ao longo de mais de uma década de existência tem lutado pela segurança de quem pedala em Portugal. Todos sabemos que a principal barreira para alguém não adotar a bicicleta como modo de transporte é o medo da violência rodoviária — Portugal e as cidades portuguesas têm ainda muito trabalho a fazer para que quer os turistas quer os locais se sintam seguros e confortáveis a pedalar. Reduzir a velocidade padrão dentro das zonas urbanas seria claramente uma das medidas já prometidas há muito e que continuamos à espera da coragem do Governo para avançar. 

A outra questão muito importante para o cicloturismo, e pela qual a MUBi também tem lutado desde a sua fundação, é a intermodalidade. Já em 2012, avançámos com  uma petição para a criação de condições de transporte de bicicletas em todos os comboios da CP. O transporte de bicicletas noutros modos de transporte é extremamente importante para fomentar o cicloturismo, bem como viagens com outros fins.

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LISBOA

ADENE – Apresentação “Bicicleta, no trânsito, em segurança!” e passeio em bicicleta

A 22 de Setembro — o Dia Mundial Sem Carros — estivemos na ADENE – Agência para a Energia a fazer uma apresentação focada no uso seguro da bicicleta na cidade, seguindo-se um passeio em bicicleta em Lisboa com um grupo de trabalhadores da agência. 

Apesar de a apresentação se ter focado em aspectos práticos de segurança no trânsito, logo no início, chamámos à atenção de que a redução dos consumos energéticos na mobilidade terão que ser conseguidos através de três formas em sequência hierárquica: Evitar, Transferir e Melhorar

O que é importante reter é que os três conjuntos de medidas são considerados hierárquicos, sendo a prioridade mais impactante e, portanto, mais importante — evitar as deslocações. De seguida, a transferência modal do Transporte Individual para modos de transporte mais sustentáveis como o Transporte Público, caminhar e pedalar é a prioridade seguinte. Finalmente podemos pensar em melhorar a eficiência dos transportes motorizados — promover os carros eléctricos, por exemplo. Comentámos que as instituições portuguesas e os sucessivos governos apenas se têm focado na última prioridade.

Mas o ponto principal da apresentação que nos foi solicitada referia-se aos cuidados a ter na segurança ao pedalar na cidade. Com isto em mente, cobrimos muitos aspectos relativamente a estes quatro factores mais importantes a ter em conta:

A sessão foi no geral bastante bem acolhida, dando-nos satisfação perceber a abertura que as pessoas têm em relação ao uso da bicicleta quando as suas principais dúvidas e receios são devidamente esclarecidos.

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PORTO

Dia Mundial Sem Carros – O que cabe num lugar de estacionamento?

No dia 22 de Setembro – Dia Mundial Sem Carros, a MUBi colaborou com a Cicloficina do Porto, o coletivo Mobilidade Ativa no Porto e AMP e a Macaréu – Associação Cultural na ocupação de seis lugares de estacionamento na Rua João das Regras, frente à dita Associação Cultural, na qual se situa a Cicloficina do Porto.

Esta ocupação deu vida à rua, entre as 14h00 e as 20h00, com várias atividades, incluindo uma Cicloficina de Mulheres para Mulheres; uma oficina de cartazes para a Kidical Mass; a presença de voluntárias do projeto Pedalar Sem Idade, que convidaram pessoas idosas a passear; um momento musical com o trombonista Dawid Seidenberg; jogos de xadrez com a colaboração do Espaço Musas; e a leitura do recém-publicado livro de Peter Fussy “E se essa rua fosse minha?”

Foi uma tarde de encontros que atraiu a atenção de transeuntes, com os quais procurámos comunicar, explicando os objetivos desta ação.

Em qualquer dia da semana, aquele local, onde se jogou xadrez, onde se jogou à macaca e se pintaram cartazes, não tem vida — é antes ocupado apenas por automóveis parados e vazios, inclusive nos dois locais de cargas e descargas.

Como todas as ruas da cidade poderiam ser nossas! Poderiam e deveriam ser de todas as crianças e de todos os idosos, de todas as mulheres, de todas as pessoas que vêem a sua liberdade limitada devido à falta de condições de segurança para se deslocarem a pé, de bicicleta, por outros modos ativos e mesmo de transportes públicos. 

A inspiração para o título do livro de Peter Fussy é uma popular canção infantil brasileira que recupera o símbolo da rua como lugar de cuidado, de brio, de encontro e amor. A usurpação do espaço público pelo automóvel privado priva-nos dessas liberdades e deseduca-nos dessas responsabilidades para com o lugar onde vivemos e para com os outros, com quem o compartilhamos.

Lamentavelmente, esta data não foi assinalada pela Câmara Municipal do Porto que, como já tivemos oportunidade de manifestar, tem tomado opções muito nefastas para a segurança de quem se desloca em modos ativos, desincentivando quem quer começar a adotá-los, nomeadamente, ao abortar abruptamente o plano de construção de uma rede ciclável.

Resta-nos trilhar o caminho oposto, desconstruindo as redomas físicas e culturais em que nos têm emparedado. Esse caminho passa por exigir mais e melhor das autoridades locais e nacionais, por criar oportunidades como estas de nos re-educarmos no verdadeiro sentido de democracia — que é o fazer em conjunto, cuidar em conjunto de um espaço comum, manifestar livremente os usos do espaço que consideramos benéficos e que queremos partilhar com residentes e visitantes da cidade.

Autoria: Fernando Saraiva 

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